Desconfio que este é daqueles posts que se auto-destroem depois de algum tempo...

Parece que estou de ressaca. Ando atordoada mas, ainda assim, consigo constatar em pequenos/grandes pormenores que, no tempo em que estive no campo de concentração, perdi muito mais de mim do que eu alguma vez imaginei. Aos poucos, sei que vou recuperar algumas coisas...outras, perdi-as definitivamente. Não há argumento, nem dinheiro nenhum, que me fizesse ficar! Sim, tenho a casa para pagar. Sim, tenho que ganhar todos os meses para equilibrar o orçamento familiar. Não, não tenho pé de meia. Não, não tenho quem me pague a prestação se eu falhar um mês....mas...mas...mas...eu não podia mais colaborar naquele "projecto" completamente surreal!


Eu olhei sempre aquela estranha realidade de fora, como se estivesse a assistir a um filme. A minha angústia, revolta, iam crescendo TODOS os dias, desde o 1º em que lá entrei. TODOS os dias, sem excepção, eu, incrédula, dizia/pensava "isto não é possível!".Via um grupo de professores/robôs que trabalhava, trabalhava, trabalhava na escola empurrado pelo stress e pelo medo que lhe incutiam e levava ainda mais trabalho para casa do que aquele que já tinha feito ali. Em alturas especiais? Não! SEMPRE!
"Tudo isto beneficia os alunos?"- pensava, eu, tentando justificar o injustificável. Os alunos, à conta disto tudo, "levam" com professores jovens, infelizes, desmotivados, gastos. São até bastante competentes, mas ásperos, nervosos e alguns um tanto agressivos já. Fazem o seu melhor, acreditem, tendo em conta as circunstâncias a que estão sujeitos. Elogiei-os sempre, convicta de que estive com o grupo de professores com mais capacidade de trabalho que alguma vez vi na vida. Só lhes fiz uma única crítica: terem deixado chegar a situação a um ponto absolutamente insustentável! Muitos têm abandonado aquele barco. Não sei se os fortes ou os fracos, juro que não sei. Os que ficam têm muito valor, disso não tenho dúvida!


Não mais vou esquecer o dia em que....

...vi uma Biblioteca escolar com armários fechados;

... me apercebi que os professores imprimiam milhares de folhas, em casa , à sua conta;

...pedi 20Euros à minha irmã para ir ao 1º "convívio" (lololololol) para acolher os colegas...sabem aqueles cunbibios onde vão todos voluntariamente ahahahhahahahah;

...tive que preencher papéis (burocracias contratuais) durante 30 minutos de pé na secretaria porque não me deixaram levá-los para preencher sentadana sala de profs, mesmo, mesmo ali ao lado;

...me enxotaram da secretaria dizendo que ia fechar;

...constatei que já comprava 2 tinteiros de cada vez e já não comprava apenas uma resma de papel mas, sim, a caixa inteira!

...fomos TODOS humilhados, enxovalhados de uma forma brutal, na sala de professores (3ª semana) e NINGUÉM disse NADA!

...as lágrimas me caíam no prato quando almoçava na cantina, quando percebi que nem aí podia estar descansada;

...perguntei a um colega "diz-me, sem rodeios, somos nós que compramos as canetas para escrever nos quadros brancos?" e ele me respondeu SIM;

...desautorizaram um professor à frente dos seus alunos, de forma sórdida e sem razão NENHUMA!

...me apagaram as luzes da minha sala de aula porque, supostamente, não era necessário estarem acesas;

...depois de uma aula assistida, pergunto ao "avaliador" o que posso melhorar naquele item em que tive pouco adequado e me respondem "não sei, porque como esta aula tinha estas características (não interessa quais) também não sei como se faz;

...um aluno me pergunta "então stôra, teve boa nota na aula?";

...nem me vou esquecer daquele dia em que....nem daquele em que....nem do outro...nem daquele outro...e outro...e outro...e outro.........

Para além dos dias, também não me vou esquecer das noites que passei em claro a preencher papéis da treta e jamais esquecerei a noite em que a minha irmã chegou a minha casa, eu estava já "adormecida", a Luísa ainda acordada e ela teve que deitar e aconchegar as duas.